Conexão perigosa: o preço da vida digital na saúde mental dos adolescentes 2q4g19

Constante desafio de buscar aprovação online tem levado adolescentes e jovens adultos a enfrentarem ansiedade, isolamento e insegurança, enquanto profissionais alertam para os riscos silenciosos dessa nova realidade t7241

Por Thayanne Magalhães - Reportagem / Bruno Martins - Revisão / Freepik - Foto de capa | Redação

Na palma da mão, o celular virou companheiro inseparável e o termômetro do valor pessoal. A ansiedade por curtidas, comentários e aprovação digital tem roubado o sono e a paz de muitos jovens, que acordam angustiados e medem sua autoestima pelo número de interações nas redes sociais. Esse fenômeno, que parece banal para quem observa de fora, representa uma pressão constante e silenciosa que afeta principalmente adolescentes em contextos vulneráveis, onde o o a apoio emocional é ainda mais .

As redes sociais, que deveriam ser espaços de conexão e diversão, tornaram-se arenas de comparação e julgamento incessante. A busca pela imagem perfeita e pela aceitação imediata alimenta um ciclo exaustivo de insatisfação e insegurança.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem com transtornos de ansiedade, um problema que tem crescido de forma alarmante, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Embora os números da OMS sejam de 2019, antes da pandemia, especialistas alertam que a situação atual é ainda mais preocupante, com um aumento significativo dos casos devido ao isolamento social e ao uso intensivo das redes digitais.

(Foto: Freepik)

No Brasil, essa tendência se confirma com dados recentes do Ministério da Saúde que revelam um crescimento dramático nos atendimentos por transtornos de ansiedade pelo SUS. Entre 2014 e 2024, os registros para crianças de 10 a 14 anos aumentaram cerca de 1.500%, enquanto entre os adolescentes de 15 a 19 anos o crescimento ultraou os 4.400%. Esses números refletem um cenário preocupante, mostrando que o impacto do uso excessivo do celular e das redes sociais está diretamente ligado ao aumento das doenças mentais nessa faixa etária.

Especialistas em Alagoas acompanham esses dados de perto, ressaltando que o ambiente digital, marcado pela pressão constante por aceitação e comparação, tem contribuído para a intensificação dos sintomas de ansiedade, depressão e isolamento social entre os jovens, sobretudo nas periferias, onde o o a e psicológico ainda é limitado.

Enquanto o mundo virtual exibe feeds cuidadosamente montados, a realidade por trás das telas revela um grito abafado por socorro. O uso excessivo das redes sociais tem deixado marcas profundas e invisíveis na mente dos adolescentes e jovens adultos. Para especialistas, é urgente ampliar a atenção a essa questão, pois a pressão por estar sempre conectado e validado pode desencadear um verdadeiro colapso emocional, muitas vezes ignorado por quem convive com essa geração hiperconectada.

'De modo geral, as plataformas têm baixa regulação ou controle dos conteúdos, o que as torna, de forma generalizada, bastante nocivas aos adolescentes', afirma a psicóloga Sheyla Fernandes

Profissionais de Psicologia e Psiquiatria estudam e discutem cada vez mais o impacto do uso excessivo da tecnologia no comportamento de crianças e adolescentes (Foto: Agência Alagoas)


Especialista da Ufal alerta: redes sociais causam sofrimento psíquico e moldam autoestima e comportamento de jovens 653q1c

Para a professora Sheyla Fernandes, docente do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os impactos das redes sociais na saúde mental dos jovens brasileiros são “complexos e ambivalentes”, com efeitos positivos e negativos. Ela alerta, no entanto, que o tempo de uso é um fator determinante. “Quanto maior o tempo gasto nas redes, maior tende a ser a exposição a riscos”, pontua.

Entre os prejuízos mais evidentes está a comparação constante com padrões idealizados de sucesso, beleza e felicidade, comumente reforçados em plataformas como Instagram e TikTok. Esse ambiente, segundo a professora, pode gerar sensação de inadequação, baixa autoestima e contribuir para quadros de ansiedade e depressão. “Algumas evidências também apontam para problemas no sono”, acrescenta.

Em contrapartida, os efeitos positivos das redes costumam estar relacionados ao uso consciente e equilibrado. “As redes sociais podem gerar conexão social e pertencimento, expressão e identidade, maior o à informação e apoio. Mas esses desfechos não são os mais frequentes, já que o uso abusivo tem sido amplamente identificado”, afirma.

Sheyla coordena, junto com outros 19 pesquisadores de diferentes regiões do país, o Grupo de Trabalho “Ciberpsicologia e Interações Sociais”, vinculado à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). O grupo estuda os efeitos da hiperconectividade na saúde mental e desenvolve propostas de intervenção para mitigar os danos.

Entre os sintomas mais recorrentes associados ao uso excessivo das redes estão dificuldades de concentração, queda no rendimento escolar, compulsão por checar notificações e, em casos mais graves, automutilação e ideação suicida. “Outro sinal de alerta é a sensação de vazio e desânimo quando não estão conectados, o que pode indicar uma dependência das redes”, explica.

Apesar da percepção social de que certas plataformas seriam mais nocivas que outras, a professora ressalta que o problema não está apenas no tipo de rede, mas no tipo de conteúdo e na desconexão com a vida offline. “De modo geral, as plataformas têm baixa regulação ou controle dos conteúdos, o que as torna, de forma generalizada, bastante nocivas aos adolescentes.”

Sheyla Fernandes, docente do Instituto de Psicologia da Ufal e pesquisadora do CNPq (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo ela, os algoritmos de engajamento potencializam esse ciclo. “Ao priorizarem conteúdos que geram mais curtidas, comentários e compartilhamentos, os algoritmos incentivam os usuários a postar aquilo que mais agrada, muitas vezes em detrimento do que é autêntico ou espontâneo. A identidade a a ser construída de forma performática, guiada por tendências, filtros e padrões inalcançáveis.”

A especialista aponta ainda que os efeitos das redes sociais não são uniformes entre os jovens. O contexto socioeconômico e os marcadores de gênero influenciam diretamente a forma como os adolescentes vivenciam essas experiências. “Jovens de classe mais baixa não têm o mesmo e financeiro, educacional e psicológico que jovens com poder aquisitivo mais elevado. Da mesma forma, a pressão social dirigida a meninas não é a mesma dirigida a meninos. As redes reforçam visões estereotipadas de gênero que afetam de formas distintas a saúde mental.”

No enfrentamento a esses impactos, ela defende que famílias e instituições de ensino devem assumir um papel ativo. “É preciso acompanhar o que é consumido, oferecer apoio, escuta e promover atividades fora das redes que possam gerar entusiasmo e lazer. Mostrar que existe vida fora das redes.”

O grupo coordenado por Sheyla realiza pesquisas, elabora materiais educativos e participa da construção de políticas públicas. Uma das contribuições mais recentes é a organização do I Simpósio de Pesquisa em Ciberpsicologia e Interações Sociais, que será realizado entre os dias 2 e 5 de setembro de 2025, no Centro de Inovação do Jaraguá, em Maceió. “Será uma oportunidade para refletir coletivamente sobre os desafios da psicologia e áreas afins na interação entre as pessoas nessa era digital. É um marco para a cidade receber a primeira edição do evento”, destaca.

Embora países como Reino Unido e Estados Unidos já tenham avançado em legislações que protejam crianças e adolescentes nas redes — como o Online Safety Act e a Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças (COPPA) —, Sheyla avalia que o Brasil ainda caminha de forma lenta. “Temos programas e políticas públicas de educação digital, cartilhas e guias, e mais recentemente a Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas. Mas é preciso mais. Desde 2014 o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) também vem tratando da abusividade no direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança e ao adolescente.”

Para ela, a psicologia ainda está se preparando para compreender os efeitos profundos de um mundo hiperconectado. “Estamos trabalhando duramente para isso”, conclui.

Adolescentes e crianças são mais vulneráveis 6l5f50

Para o psicólogo Bryan Andrade, a faixa etária mais suscetível aos impactos negativos das redes é a das crianças e adolescentes. “Por estarem em processo de desenvolvimento psicológico e serem mais sensíveis a recompensas imediatas e pressão social, crianças e adolescentes são mais vulneráveis”, alerta.

Essa vulnerabilidade exige atenção redobrada por parte de pais, professores e colegas, que devem observar mudanças de comportamento, isolamento, queda no desempenho escolar ou profissional e sinais de sofrimento emocional.

Ansiedade, depressão e distúrbios de imagem estão entre os transtornos associados ao consumo exagerado de plataformas digitais, segundo especialista da Uncisal 51641d

Com o avanço da tecnologia e a popularização das redes sociais, os impactos desse ambiente digital sobre a saúde mental têm sido objeto de crescente atenção por parte de pesquisadores e profissionais da área. De acordo com o psicólogo Bryan Silva Andrade, coordenador do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Social (NAPS) da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), o uso excessivo das redes sociais é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de transtornos mentais, sobretudo em adolescentes e jovens adultos.

Transtornos associados e consequências psicológicas 406712

Segundo o especialista, diversos estudos nas áreas de Psicologia e Psiquiatria apontam que o consumo exagerado de redes sociais está relacionado ao aumento de casos de ansiedade, depressão, transtornos de imagem e até sintomas de dependência digital. “Também foram identificadas correlações com problemas psicológicos acerca da autoestima e da capacidade de manter a concentração em tarefas, além de distúrbios do sono”, afirma Bryan Andrade.

Como identificar um uso nocivo 5e64y

O psicólogo destaca que o uso se torna patológico quando a a interferir negativamente em áreas essenciais da vida do indivíduo. “Podemos considerar que o uso nocivo é aquele que produz consequências negativas objetivas que se convertem em prejuízos sociais, emocionais, financeiros, entre outros”, explica.

Psicólogo Bryan Silva Andrade (Foto: Arquivo pessoal)

Entre os sinais de alerta estão a negligência com o trabalho, os estudos, a higiene pessoal, os cuidados com o ambiente doméstico e a manutenção de vínculos sociais. Outro indício é a dificuldade de reduzir ou abandonar o uso, mesmo diante dos prejuízos percebidos. “Esse fracasso geralmente é acompanhado de sintomas de abstinência, como picos de ansiedade e comportamentos impulsivos”, acrescenta.

A postura do usuário em relação às redes também influencia no impacto psicológico. “Uma atitude iva, onde o sujeito apenas divaga nos conteúdos, configura-se como mais nociva do que quando há interação com outros sujeitos. Quando há interação, existe maior possibilidade de trocas intersubjetivas que geram sensações positivas”, afirma.

Prevenção e tratamento: o que pode ser feito 4yf2

O psicólogo aponta que o controle do tempo de exposição às redes sociais é uma das estratégias mais eficazes na prevenção do uso problemático. “Isso pode ser feito com a ajuda de pessoas com quem convivemos, bem como com o uso de aplicativos que monitoram o tempo de uso”, orienta.

Além disso, é essencial desenvolver uma consciência crítica sobre o funcionamento das plataformas, que são alimentadas por algoritmos e publicidade direcionada. “Compreender como funcionam as redes sociais, sua publicidade e sua inteligência artificial pode ajudar a desenvolver maior criticidade sobre o ambiente digital e suas contingências”, afirma.

Do ponto de vista coletivo, o especialista defende a atuação do poder público. “Intervenções de Estado a partir de políticas públicas que limitem ou moderem as redes sociais podem proteger pessoas de exposições nocivas, sobretudo crianças e adolescentes”, sugere.

Nos casos em que já existem prejuízos relevantes à saúde mental, buscar ajuda profissional é fundamental. “Acionar a rede de apoio solicitando a atenção dos familiares, amigos e demais pessoas em que possamos confiar, pode ser o primeiro grande o para a superação de qualquer problema de ordem psicossocial”, recomenda. O acompanhamento psicológico individual é uma das estratégias indicadas para tratar os conteúdos mentais ativados pelo uso exagerado das redes.

Redes sociais também podem ser aliadas da saúde mental 4n453s

Apesar dos riscos, Bryan Andrade reforça que o uso consciente e equilibrado das redes pode contribuir positivamente para o bem-estar. “As redes sociais podem e devem ser instrumentos para nos auxiliarem com as demandas da vida, desde que usadas com equilíbrio e atenção aos nossos limites e potenciais pessoais”, afirma.

Segundo ele, é possível utilizar essas plataformas para interagir socialmente, construir vínculos com pessoas fisicamente distantes, buscar informação, divulgar trabalhos, ensinar e aprender. “É sempre importante ter em mente que as redes sociais são ferramentas que devem ser usadas de modo consciente, em equilíbrio com outras atividades, sobretudo aquelas onde há contato social direto”, conclui.

Programa estadual “Coração de Estudante” já atendeu 33 mil alunos com foco na saúde mental e na formação socioemocional 4d4t5r

Desde fevereiro deste ano, a Secretaria de Estado da Educação de Alagoas (Seduc) vem implementando medidas para enfrentar os impactos do uso excessivo de redes sociais entre os alunos da rede pública. Com o lançamento do programa Coração de Estudante, a pasta busca promover o bem-estar emocional e melhorar o rendimento escolar por meio de ações integradas entre profissionais de saúde, gestores, professores e famílias.

Com um investimento inicial de R$ 4 milhões, o programa já contabiliza mais de 33 mil atendimentos. Entre os principais eixos de atuação está o atendimento psicológico, com a contratação de 60 psicólogos e 20 assistentes sociais, distribuídos conforme a proporção de um psicólogo para cada cinco escolas e um assistente social para cada 15. Esses profissionais integram o Núcleo Estratégico de Acompanhamento Psico Socioassistencial (NeAPSA), que atua diretamente com os alunos e também com suas famílias.

Givanildo Marques, psicólogo escolar da Seduc, afirma que o uso indiscriminado dos celulares e redes sociais tem trazido prejuízos à aprendizagem e à socialização dos estudantes. “O resultado de alguns estudos apresentados por especialistas, em que foram observados comportamentos limitadores de socialização e déficit de aprendizagem significativos entre os estudantes, fez com que as escolas tomassem tal medida”, explicou.

Desde fevereiro deste ano, foi sancionada pelo presidente Lula a Lei nº 15.100/25, que proíbe a utilização de telefones celulares no ambiente escolar, seja durante as aulas ou intervalos. O psicólogo escolar destacou o dano que a tecnologia vem causando. “Não podemos aceitar que a tecnologia seja o senhor de nossas vidas, uma vez que tudo o que nos domina, nos escraviza.”

Givanildo Marques, psicólogo escolar da Seduc, fala aos estudantes em sala de aula da rede pública estadual (Foto: Divulgação)

Segundo o psicólogo, os resultados da medida já são visíveis. “Observa-se entre os alunos uma maior interação social entre eles. Alguns começaram a levar livros e jogos educativos, que eram itens quase que escassos nas mãos dos nossos alunos”, destacou. Além disso, atividades alternativas vêm sendo promovidas para ressignificar os momentos de intervalo, tradicionalmente dominados pelo uso de celulares. “Algumas escolas tomaram decisões significativas, como disponibilizar instrumentos musicais, tênis de mesa e manter a quadra de esportes aberta nesse período”, completou.

Do ponto de vista emocional, os benefícios também são notáveis. “O nível de ansiedade, que era muito mais perceptível entre os alunos, hoje praticamente não acabou, mas diminuiu significativamente”, relatou. “As rodas de conversa no pátio das escolas, que anteriormente eram pouco frequentadas, hoje reúnem alunos conversando, jogando ou até mesmo brincando entre eles.”

Apesar da aceitação por parte de muitos estudantes, a medida ainda encontra resistência, especialmente de pais e responsáveis. “Observa-se uma resistência bem particular quando muitos dos pais trabalham fora de casa e precisam monitorar seus filhos”, reconheceu Marques. Ainda assim, ele afirma que as ações de conscientização têm surtido efeito. “As orientações dadas pelos gestores, coordenadores e outros especialistas contextualizados nesse processo têm conseguido conscientizá-los dos perigos e riscos que o excesso de exposição à tela do celular vem provocando nas crianças e adolescentes.”

O programa Coração de Estudante oferece e contínuo à saúde mental dos alunos por meio de atendimentos individuais, rodas de conversa e ações articuladas com as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e demais órgãos da rede de proteção. Nos casos mais graves, como abuso ou violência, os estudantes podem ser encaminhados para delegacias especializadas.

Alunos da rede estadual já podem contar com o Programa Coração de Estudante (Foto: Agência Alagoas)

Também foi distribuído através do programa um material didático voltado à formação das competências socioemocionais, especialmente para o ensino fundamental. Esses recursos são utilizados para auxiliar professores na abordagem de temas como empatia, respeito, autoestima e convivência.

De acordo com Marques, os efeitos do excesso de conectividade sobre os jovens vão além da sala de aula. “As crianças e os adolescentes, por serem uma população mais vulnerável em termos de domínio dos fatos, tendem a ficar reféns da tecnologia e serem vítimas fáceis de serem controladas pelas máquinas digitais”, afirmou. Ele reforça que a escola tem papel fundamental tanto na formação digital quanto emocional dos alunos: “O mundo digital é indispensável para a construção do saber, mas essa conexão precisa conhecer os limites que ela requer.”

Para ele, restringir o uso do celular contribui não apenas para a aprendizagem, mas também para a saúde mental dos estudantes. “Entende-se que a restrição por si só não funciona. É necessário criar uma política educacional que também envolva os pais ou responsáveis nesse processo”, afirmou. “É imprescindível cuidar de uma maneira integral dos nossos estudantes.”

Segundo a Seduc, essa política vem sendo estruturada com base em diretrizes do Ministério da Educação (MEC) e busca envolver toda a comunidade escolar. “A Seduc tem se empenhado para ofertar aos estudantes de toda a rede pública de ensino do nosso estado uma política voltada exclusivamente às questões socioemocionais dos estudantes, gestores, professores e a comunidade em geral”, concluiu o psicólogo.

Ministério Público reforça atuação em defesa da saúde mental em Alagoas 2t4d6v

A defesa da saúde mental tem ganhado atenção cada vez maior dentro do Ministério Público de Alagoas (MP/AL). Por trás das ações jurídicas e institucionais, está uma preocupação concreta: garantir que quem enfrenta sofrimento psíquico tenha atendimento digno, o a serviços públicos adequados e seja tratado com respeito, sem exclusões ou preconceitos. Para isso, o MP tem atuado de forma ativa na fiscalização das políticas públicas voltadas à saúde mental, cobrando melhorias, propondo mudanças e, quando necessário, recorrendo à Justiça.

No estado, a promotora de Justiça Micheline Tenório é uma das vozes que tem se empenhado na causa. “O nosso objetivo maior é conscientizar as pessoas que elas não são o problema e precisam pedir ajuda para encontrar uma forma de sair dessa situação de desesperança que se encontram. Elas precisam entender que essa dor tem solução”, afirma a promotora, que atua na 26ª Promotoria de Justiça da Capital.

A fala traduz o espírito de várias iniciativas em andamento no MP/AL. Parte do trabalho é acompanhar de perto se os serviços de saúde mental – como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os hospitais – estão funcionando como deveriam. O Ministério Público verifica se há equipes completas, estrutura adequada e atendimento contínuo. Também observa se o modelo adotado respeita o que prega a Política Nacional de Saúde Mental, baseada no cuidado em liberdade e na reintegração social, em vez de internações prolongadas e isolamentos.

Promotora de Justiça Micheline Tenório (Foto: Assessoria)

Quando encontra falhas, o órgão atua diretamente junto aos gestores públicos. Pode expedir recomendações istrativas, exigindo que providências sejam tomadas, ou até mesmo mover ações judiciais quando os problemas persistem. O objetivo, segundo a própria promotoria, não é punir por punir, mas provocar mudanças concretas que façam diferença na vida das pessoas.

Nos últimos anos, o MP/AL também tem ampliado a atuação em frentes mais específicas, como o sistema prisional. Por meio do Grupo Institucional de Atenção à Saúde Mental do Sistema Prisional (GITIS), o Ministério Público busca garantir atendimento adequado às pessoas privadas de liberdade que têm transtornos mentais ou deficiências psicossociais – uma população ainda mais vulnerável e, muitas vezes, esquecida nas políticas públicas.

Outra estratégia importante tem sido o diálogo com outras instituições. O MP firmou parcerias com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), secretarias municipais, conselhos e universidades para promover ações conjuntas, monitorar serviços e construir propostas de melhoria da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A ideia é fortalecer um sistema público de cuidado que seja territorializado, multiprofissional e acolhedor.

A atuação também tem um olhar voltado para os direitos mais amplos das pessoas com transtornos mentais. O MP se mobiliza para que elas tenham o à educação, ao trabalho, ao lazer e à convivência familiar e comunitária, combatendo situações de exclusão e violência institucional. Em muitos casos, isso significa intervir quando há negligência, abandono ou maus-tratos em abrigos, instituições ou mesmo dentro da própria família.

Ao unir ações jurídicas com estratégias educativas e de articulação institucional, o Ministério Público de Alagoas tenta dar visibilidade a um tema que, por muito tempo, foi tratado com silêncio ou preconceito. Hoje, o desafio é garantir que a saúde mental seja compreendida como um direito de todos – e, sobretudo, que esse direito seja cumprido na prática.

“Redes sociais mexeram com minha saúde mental, e não estou sozinha”, diz jovem profissional de marketing digital 6z4f1t

Thays Melro, jovem profissional que atua com marketing digital, compartilhou um relato sincero sobre o impacto das redes sociais em sua saúde mental. Ela começou a usar essas plataformas aos 13 anos, inicialmente para se divertir e manter contato com os amigos. Porém, com o ar do tempo, percebeu que a relação com as redes foi se tornando mais complexa e desgastante.

“As redes sociais já mexeram — e muito — com a minha saúde mental. Nem sempre é fácil falar sobre isso”, confessou Thays. “No começo, era só para me distrair, para falar com os amigos, mas aos poucos comecei a me perder em comparações com o que parecia perfeito na vida dos outros.”

Ela relata que essa sensação de comparação constante virou um ciclo difícil de romper. “Anos depois, percebi que tudo virou comparação. Quando me sinto ansiosa ao postar algo, ou frustrada ao rolar a tela sem parar, me sinto vazia e desconectada de mim mesma. Esses são sinais claros de que algo não vai bem.”

Thays conta que o tempo que ou usando o celular aumentava cada vez mais, afetando sua cabeça e sua rotina diária. “Além dos comentários negativos e críticas, que me afetaram mais do que eu imaginava, comecei a me isolar socialmente. Perdi a vontade de sair, de fazer o que gostava. É um ciclo vicioso: quanto mais usava as redes, pior me sentia — e quase ninguém percebia isso.”

Apesar das dificuldades, hoje Thays segue em busca do equilíbrio no uso das redes sociais. Ela reconhece que o caminho para uma relação mais saudável com a tecnologia não é fácil, mas acredita que compartilhar sua experiência pode ajudar outras pessoas. “Se você se sente assim, saiba que não está sozinho. Muitas pessoas am por isso.”

Entre as estratégias que adotou para minimizar os efeitos negativos das redes, Thays destaca a importância de estabelecer limites de tempo para o uso, silenciar perfis que causam mal-estar e seguir conteúdos que verdadeiramente inspiram. “Também aprendi que não preciso estar sempre disponível para o mundo virtual. Saber disso faz toda a diferença.”

O relato de Thays reforça um tema cada vez mais presente entre jovens: o impacto da hiperconectividade na saúde mental e a necessidade de buscar um equilíbrio para preservar o bem-estar emocional.